Permaneço entre aquilo que me excita e aquilo que me da prazer... Desconheço o que me completa

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Tua Presença


 Há presenças que não chegam apenas pelo olhar, 

mas pela vibração invisível que atravessa o ar.

Como se o corpo inteiro fosse ouvido,

como se a pele aprendesse a escutar antes mesmo de tocar.


A tua presença é assim. 

Não ocupa espaço, molda-o.

Não pede licença, 

instala-se nas frestas da atenção, 

na respiração que desacelera 

para não perder a cadência do instante. 

Há nela um peso leve, 

feito da matéria dos lugares 

que ninguém visita sem regressar diferente.


Carregas um vazio que não é ausência, 

mas território denso 

— feito de becos sem saída, 

madrugadas que ardem devagar 

e sombras que brilham demais. 

Não se trata de falta; 

é excesso de tudo o que não se nomeia. 

Uma corrente subterrânea 

onde a palavra ainda não ousou mergulhar.


Sinto que há em ti 

um rumor de um grito,

mas  que você prefere o silêncio, 

não por covardia, 

mas pela lucidez 

de quem sabe que certos sons 

Pode partir o mundo em dois. 

Essa lucidez é ferida, 

mas também é farol. 

É nela que se reconhece 

E foi luz que já atravessou tempestades 

e não perdeu de todo o sentido da costa.

Não tenho promessas. 

Trago apenas a disposição inteira 

de permanecer junto ao teu território, 

sem redesenhar suas fronteiras, sem exigir clareiras. 

Eu Trago apenas o tempo necessário 

para que o chão se lembre 

do que é sustentar pés cansados.

E, se alguma claridade (oportunidade) vier, 

que nos encontre assim

 — não como vencedores da noite, 

mas como cúmplices 

que aprenderam a existir dentro dela sem perder o sopro.


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